POLITICAVOZ: Pior do que está não fica, tenho certeza.
Nada me impressionou mais nas eleições do que a vitória de Tiririca. Nem a questão dos vinte anos dos tucanos no Estado de São Paulo, nem o aparecimento de Marina Silva no cenário nacional (consequentemente o crescente do Partido Verde). Três temas relacionados à democracia, mas com um deles virando uma chacota. Enfim, temos também nosso Macunaíma, enfim fizemos o nosso tão sonhado representante!
Quando apareceu o nome do sujeito, tudo parecia uma grande piada. Confesso que também achei divertido. Então surgiu a primeira pesquisa de intenção de voto: o nome dele estava lá, firme e forte; com quase 900 mil votos. O que eu achava divertimento; passou a ser preocupação. Então chegou o dia, as intenções se realizaram. Tiririca virou o sujeito mais bem votado da história. E convenhamos, qualquer duzentos votos seriam fenomenais na carreira desse novato político.
Nos últimos dias ouvi muito sobre essa candidatura (até então Tiririca não era nosso deputado). E as idéias diziam mais ou menos isso: Ele tem o direito de se candidatar e nos o dever de escolher. Então, a crítica sobre os pontos da campanha de Tiririca não podem cair sobre ele, mas sobre os eleitores. Eleitores que decidiram pelo protesto, pela brincadeira ou pela indiferença. Itens que demonstram nossa infantilidade diante das instituições que consideramos falidas, mas que é reflexo das nossas próprias escolhas.
Três pontos básicos de sua “campanha” são temas importantíssimos. A primeira delas é “não sei o que faz um deputado, mas quando souber eu conto”. Isso é uma novidade na fala de um candidato, apesar de não ser de um eleitor. Não sabemos o que faz um deputado, nem um vereador; muito menos um senador. Federal, municipal, estadual e síndico têm quase o mesmo significado em nossa arrogância perante a política: “não nos preocupamos com política, pois são todos corruptos”. Um erro caro demais para nossos bolsos, eu diria. Principalmente por elegermos mais incompetentes do que corruptos.
A segunda situação é a falta de proposta. Bingo para Tiririca! A inovação de quem não promete nada, pois sabe que não vai cumprir. Podemos fazer inúmeras críticas sobre ele, menos que mentiu durante a campanha. Propostas? As melhores possíveis. E de concreto? Cimento. Além de político, temos também um novo filósofo. Ninguém nunca falou com tanta desenvoltura sobre sinceridade humana, sobre os problemas da sociedade e sobre o sonho da casa própria.
E por último, a frase que considero mais importante da nova era política: “Pior do que está não fica!”. Depois de marcamos uma época com o “rouba, mas faz” que eu chamo de Tratado de benfeitorias alheias (pois parece que as ações públicas que todo mundo elogia nunca chegam até nós). Temos agora do tratado do pessimismo vergonhoso alheio; que representa a ferida aberta de toda a sociedade em questões políticas. O povo fica envergonhado pela classe política, os políticos envergonhados das escolhas dos eleitores e assim numa terrível trama que alguns chamam de protesto.
E pelas vias tortas, que nosso Macunaíma do século XXI pode representar a quebra de uma sucessão de enganos, onde achamos que os políticos não são nossos representantes; e que os políticos verdadeiramente não nos representam.