POLITICAVOZ: Mais do mesmo, mais uma vez
E chegamos ao segundo turno. Diferente do que as pesquisas indicavam, Celso não chegou em primeiro. Ficou em terceiro, o que é louvável. Mas terceiro e último, em matéria de democracia, é quase a mesma coisa. Brasileiro é assim: ou tudo ou nada. José e Fernando foram escolhidos pela população, numa gincana pouco engraçada do horário eleitoral, misturando coisas sérias com candidatos estranhos trazidos pelo “efeito Tiririca”. O segundo turno será mais interessante, polarizado; briga de candidatos que conseguiram quase sessenta por centos dos votos.
Celso parecia coordenar uma mudança radical no monopólio PT e PSDB. PT com grande participação no legislativo e PSDB décadas e décadas no governo estadual. É verdade que o PT já conseguiu grandes vitórias na capital de São Paulo, mas ainda assim é o seu tendão. PSDB se sente mais confortável com o padrão “conservador esquerdista centralizado de direita” em São Paulo. Ter Serra no segundo turno não é novidade, apesar do número grande de rejeições. Haddad teve um grande crescimento nas últimas semanas, apesar do julgamento do mensalão. Mas alguém consegue justificar a derrocada de Russomano?!
Segundo o próprio candidato, ele foi atacado “injustamente” nos últimos dias das eleições. Evidente que seria atacado, pois estava em evidência. Mas se as pesquisas indicavam o primeiro lugar podemos pensar: que as pesquisas nunca estiveram certas ou que os votos para Russomano eram ainda um impulso pela falta de opção das candidaturas. Também parece que, de um modo mais intenso do que em outras eleições, a rejeição por Russomano nas redes sociais tenha surtido efeito no momento do voto. Jogo é jogo, treino é treino; como diz a sabedoria popular.
A verdade é que Russomano estava aproveitando muito bem uma brecha entre os “cansados de Serra” e aqueles que “não querem votar no PT”. Mas, por algum motivo, o que era novidade passou a ser mais do mesmo. Aquele candidato da renovação acabou sendo “desmascarado” como candidato da velha-guarda, tão defasado e cansativo. Ele nunca disse que era uma novidade, mas as pessoas começaram a querer vê-lo dessa forma. Chalita, outro “novato” das eleições não soube aproveitar a falta de perspectivas da população com a polaridade PSDB e PT.
Haddad foi certeiro quando pegou uma proposta “mal formulada” sobre a tarifa de ônibus e colocou Russomano numa sinuca de bico. Chalita mostrou a relação do candidato Russomano com a Igreja Universal (não sabia que Chalita tinha sido o primeiro a falar sobre isso). Segundo especialistas, essas duas informações foram essenciais para a queda do candidato. Sabendo ou não disso, Chalita acabou ajudando a eleger o candidato petista para o segundo turno. Um vídeo da época em que Russomano era repórter andou pipocando na tela, mas acho que isso deve ter interferido pouco nas eleições.
A questão agora não é mais Russomano, mas os candidatos que estão no segundo turno. Propostas? Nem pensar. Assim como aconteceu no primeiro turno, as propostas dos candidatos ficarão escondidas. Não nos interessamos mais por promessas, elas são falhas. É claro, os candidatos precisarão ser mais claros em relação ao plano de governo, mas não acho que teremos esse tipo de argumento em qualquer debate. Quem sai perdendo com isso é Haddad, que é desconhecido e precisa mostrar o que é capaz. Serra todos conhecem por mandatos anteriores.
A disputa, então, seguirá a risca do mensalão e a rejeição do governo Kassab. Afinal de contas, o mensalão é um assunto atual, que os brasileiros ainda não esqueceram; e o Kassab é o presente de grego deixado por Serra. Qual dos assuntos deixam a população mais desesperada?
Pelo resultado das urnas, mensalão e Kassab passaram longe quanto a decisão do voto, apesar da insistência dos candidatos em comentar o assunto.