POLITICAVOZ: Eleição não é circo, mas poderia ser mais divertida.
Enfim chegamos ao final da mais surpreendente e emocionante campanha eleitoral. Tudo bem, há muito exagero nas minhas palavras: tudo foi muito ruim para todos nós. Desde debates que não acrescentaram nada, de teorias conspiratórias; da crescente discriminação contra os pobres, nordestinos e afins, nascida no anonimato do mundo virtual; até a exaurida discussão sobre direitos humanos. Nada inteligente nos levando ao limbo do lugar nenhum.
Final feliz para o sonho petista. Pesadelo perverso para a reconstrução da oposição: o que um precisa cumprir o outro precisa repensar. Dilma eleita para o Brasil, queriam ou não. Dilma eleita não apenas pelos nordestinos “abastados” pelo bolsa família, mas muitos ideológicos sulistas. Dilma de alguns intelectuais, artistas; de tantos outros pobres. Serra derrotado com aqueles que sonhavam com o Brasil longe de algumas incoerências éticas de uma ética estranha de um partido de trabalhadores. Nunca na história desse país perseguimos tanto os corruptos.
Não posso dizer que estou feliz com a vitória da Dilma, nem posso, hipoteticamente comemorar a vitória de José Serra. E essa indiferença é a proposta que li e ouvi desde os primeiros dias de campanha: parecia não haver diferença entre eles, apesar dos apaixonados defensores da Dilma e os delirantes seguidores de Serra: Dilma não é o anticristo e Serra não venderia o Brasil.
Como disse antes, ninguém poderia tirar o meu direito à indecisão até a última instância: quem poderia fazer isso não o fez, os candidatos. Preferiram o lugar comum dos inimigos, dos panfletos imaginários; das doutrinas ultrapassadas; de um jogo de empurra. Nenhum candidato me disse o que faria: não queriam surpreender negativamente qualquer eleitor depois de eleito. Bem fez o nosso deputado federal mais votado, que não prometeu nada; e foi eleito apenas dizendo a verdade sobre toda nossa e sua própria ignorância em relação aos assuntos políticos: a esperança é quem ele nos conte o que vai fazer agora.
E volto a falar do Tiririca, agora como ídolo. Apesar de tudo que dizem, foi o único a desnudar os eleitores. Deixando um exemplo, não apenas aos eleitores de São Paulo, mas para todo o Brasil; sobre nossa irresponsabilidade política, sobre a cultural necessidade de fazermos chacota com nossas próprias falhas: O Brasil parece ser o único lugar no mundo onde o humor lava a alma das nossas imperfeições. Alguns ficaram eufóricos com a eleição do palhaço profissional como nosso representante popular.
Dilma e Serra não souberam brincar como fez Tiritica. Tanto pelo jeito sisudo de ambos, levando a discussão magnânima da política para um local rasteiro, lamacento e cheio de sórdidas manifestações de intolerância religiosa. Existem outras intolerâncias no meio disso tudo, mas não vale a pena.. Ambos não trouxeram a leveza de uma discussão intelectual de um Fernando Henrique com um quase hippie Lula-Paz-e-Amor. Dilma e Serra deixaram em suas campanhas exemplos a não serem seguidos nunca mais, tanto para ganhadores como perdedores.
E ainda assim, torço para que tudo aconteça da melhor forma possível. Que Dilma me surpreenda como não chegou a fazer em campanha. Não sou daqueles que preferem o barco furado por causa das pessoas no leme, principalmente por saber quem são as pessoas que estão na proa.