POLITICAVOZ: A versão affair do improvável
Tudo tão morno na candidatura para prefeitura de São Paulo. A maior cidade do Brasil anda desinteressada em quem será seu comando nos próximos anos, mas sempre existe uma maneira de chamar os holofotes para os políticos. Foi mais ou menos isso o bombardeiro de críticas e manifestações em relação à novidade política à brasileira: Maluf e Lula no mesmo palanque. Dizem que o tiro no pé foi dado por Lula, já que a base integral do petismo de esquerda não admite tais alianças com inimigos históricos. A opção dos poucos segundos ganhos na campanha pode fazer a foto ser vista por muitos e muitos anos na memória dos militantes. O risco ele sabe, evidente.
É difícil saber quem sairá pior dessa encomenda. Se o petismo inibido da esquerda que enfim poderá questionar as ações do mito Lula; ou se o malufismo capenga que terá um candidato forte, como nunca mais teve desde a época do Pitta. A verdade é que a tática de Lula ninguém sabe. A única certeza é que ele refaz o imponderável com suas artimanhas dissertativas, numa falácia simples e direta. Esse prisma de Lula, que transforma até uma das piores crises numa marolinha; poderá suportar o ataque amigo? Lula terá condições, num futuro não muito distante, explicar a aliança tão estranha e insuportável no ponto de vista de alguns companheiros?
Fernando pode ganhar, mas Lula perdeu um pouco.
Nesse meio termo entre história, desaprovação e repugnância; Erundina estava com sorriso enigmático. Será que suspeitou em algum momento que a aliança Lula e Maluf aconteceria? Se sabia, qual o motivo de se apresentar em público com tanta convicção da vice-candidatura e mais tarde jogar tudo por terra? Tinha plano para o governo com o PT, mas parece não ter planos de mudar suas convicções. Uma lição para todos os políticos: ainda que as convicções não sejam completamente certas, pelos menos elas devem continuar autênticas. Erundina pulou do barco na hora certa. Suspeito ainda que Erundina faria mais pelo PT, do que Maluf por São Paulo; mas isso é só opinião de eleitor.
A verdade é que o documento está ai, em todos os jornais. Como naqueles encontros entre chefes de estados que, entre inimizade e ódio, levam o aperto de mão selando uma trégua por tempo determinado. Estão de um lado Lula e do outro Maluf. Não chefes de estados, mas ícones políticos. Nomes inquestionáveis na forma de fazer política e na liderança de seus partidos. Mais ainda: modelo para os seguidores muitas vezes mais fanáticos do que racionais. Lula e Maluf com suas características nobres e outras desprezíveis, mas nunca imparciais.
Lula compactua com inimigo histórico motivado por alguns segundos diários e uma visibilidade do seu candidato, que anda capengando nas pesquisas. Maluf protocola acerto para continuar aparecendo na mídia, demonstrando seus poderes políticos, visíveis e invisíveis; diretos ou não. E no papo fechado dos líderes políticos, a trégua para valer uma candidatura petista, e a crença na ressurreição malufista no cenário paulista é apenas uma parte da política que aparece nos telejornais, mas que não enxergamos.
Enfim, a foto do encontro foi algo doloroso para muita gente, visto tantas manifestações nas redes sociais e pelas conversar na rua. A ressalva de Lula estar com Maluf (e a de Maluf estar com Lula), simplesmente desapareceu diante da decisão de Erundina em deixar sua participação, que seria interessante, no momento em que ela percebeu que não estava mais em jogo as coisas em que acreditava, mas na avaliação das coisas que ela sabia sobre a política.