POLITICAVOZ: A paz é inútil para nós
Estamos vivendo uma era de terríveis atos violentos. Podemos denominar a Era da Violência? Em qualquer situação do nosso cotidiano temos a violência como pano de fundo. Podemos ignorá-la, tentar viver sem sua presença; odiando seu contato direto. Mesmo assim ela incomoda, finca; se instala em nossas vidas. À parte, muitos preferem ocultá-la, escondendo-se de noticiários sangrentos e seus apresentadores descontrolados. Mas estes são partes do teatro humano, aumentando ainda mais nossa insegurança, desdenhando o controle da civilização sobre a barbárie, nos deixando ainda mais violentos. O papel dos noticiários é a informação da realidade, defende alguns partidários das cenas dos crimes; eu defendo o contrário.
Concordo, mas não aceito. Prefiro o mundo como ele não é, ainda que eu me arrependa da realidade quando ela acontecer de fato. Sim, pois é inevitável que sejamos alvos de alguma espécie de violência. Nesse conjunto desorganizado da vida, o que viola não é apenas o criminoso, mas o sujeito nervoso no ponto de ônibus, o policial despreparado; o pedestre desatento e a mãe estressada. A falta da básica educação. Sim, a violência é cultural; e quanto maior ela se apresentar, maior será nossa tolerância pelas pequenas violências. O jogo é esse: Quando nos roubam e não nos levam os dedos; diz o ditado. Dos males, o menor. A violência dos nossos dias tem a característica de ser inevitável e aceitável se for menor do que a violência alheia. Fui assaltado, mas o meu vizinho morreu depois que entregou o relógio. Que bom para mim!
O basta para a violência não é simples. É necessário o desconforto pela violência, a decisão íntima de que é uma doença que consome os maiores e melhores momentos da vida. A violência precisa perder seu grau de aceitabilidade, pois cada dia nós estamos concordando que a violência é algo comum. Um gráfico colorido no nosso imaginário dizendo qual a violência é legal e qual atrapalha. Devemos agora encarar a violência. A violência gratuita sendo cobrada com juros e correção. Isso é o basta! A nossa violência em não aceitar o mundo do jeito que está. Violência de querer o mundo melhor, contra a violência do egoísmo e coisas do gênero. Precisamos ajustar o modus operanti humano, e seguir as diretrizes até o final de nossas vidas. É preciso coragem para se acovardar diante da violência e mantê-la insuficiente no seu ciclo vicioso e arrogante. Precisamos deixar de lado nosso micro para que a violência macro se enfraqueça.
Por esses termos sou a favor ao desarmamento. Pois não vejo por onde, e como, os bandidos se sentirem menos confiantes na possibilidade de um embate com um sujeito normal. Dentro do choque, os sujeitos maus terão mais facilidade em liberar o mal que o sujeito do bem deixar o seu lado bom. A corrida pela violência é desumana: os violentos estão mais preparados aos maremotos e catástrofes dos sentimentos humanos. Pois os maus não sentem qualquer saudade do bem que (não) fizeram, mas os bons se inibem do mau que podem fazer. No duelo armado, o bem dará o tiro na incerteza de um futuro, o mal dará para a certeza do presente. Hesitaremos, nós, os bons, na possibilidade de matar mesmo diante da expectativa em morrer. Eles não perdem, nós não ganhamos. A questão do porte de armas, em si, é apenas sobre a liberdade em poder fazer algo; mas não pensem que pode ser uma questão de segurança. A maioria das pessoas de bem não se sentirá segura diante dos bandidos, pois, mesmo armada, optarão pela vida (do bandido) diante da morte (de si mesmo).
Portanto, a Era da Violência surge por causa de tantas décadas da Era do Medo. Medo da guerra, medo do desemprego e medo da solidão. O medo fez um estrago tão grande que as pessoas se sentem inseguras. A violência é um contra-ataque do medo. Os criminosos, violentos, têm medo de suas vidas. Sentem-se frustrados em suas conquistas. São marionetes do mal que podem fazer, pensando que há algo de bom em suas vitórias momentâneas. O criminoso que queima sua vítima acha que pode ser melhor, poderoso; dono da situação. Ele não é dono de nada, nem de suas próprias escolhas, pois fez a escolha errada.
É por isso que eu imagino que a violência só será controlada quando o ser humano for controlado: em suas necessidades, desejos e ambições. Controlado por si mesmo em suas escolhas. Isso implica que estamos longe de acabar com a violência. O quê não podemos pensar é que a violência pode acabar com a contrapartida da violência. Que estaremos seguros quando nos tornarmos violentos. E que, por algum motivo, a violência faz parte das nossas características humanas, mesmo dormente. A violência no homem não precisa acordar, mesmo quando parece ser inútil qualquer sentimento de paz. A paz que parece ser derrota, enfraquecimento e covardia. A paz, que parece inútil, é o caminho de uma libertação.
Enquanto o mundo se equiparar na violência, será um mundo preso, sem aconchego e segurança. Haverá aqueles que lutam com a violência para ter algo, e aqueles que fogem pela paz, simplesmente para ser alguém.
Crédito da imagem: fwdthought