DESCONECTADO: Bullyng não tem mais graça.

O título é um choque! Afinal de contas, em algum momento na vida o bullyng foi engraçado? Na verdade ele nunca teve graça, mas o pessoal não levava a sério. Na roda de amigos aquele cara estranho era a gozação, para os professores era uma brincadeira de criança; os pais geralmente não sabiam o que acontecia com seus filhos. De um tempo para cá pouco mudou: as crianças continuam caçoando aquele companheiro “diferente”. Os professores tentam inibir até onde podem; e os pais; esses continuam não sabendo de absolutamente nada.

Para quem não sabe, ou ainda não ouviu sobre o tema (o que eu acho impossível nos dias de hoje), bullyng é o chamado “assédio escolar”; onde um indivíduo sofre violência física e psicológica; de forma intencional e repetidas vezes, de agressores individuais ou de grupo de indivíduos. Essas vítimas sofrem por serem “gordas”, “magras”, “usarem óculos”; não saberem “praticar nenhum esporte” e “não ter namoradas”. É possível que, em algum momento, vocês que estão lendo esse texto foram vítimas ou agressores desse assédio escolar.

A “doença” ficou preocupante depois do acontecimento no Rio de Janeiro. O massacre do Realengo foi cometido por um sujeito que, em sua carta de “justificativa” disse que sofreu violência durante muito tempo de vida escolar. Assim, temos em potencial muitos criminosos andando de lado para outro nos pátios escolares. Se todos eles se tornarão criminosos um dia, só o tempo irá dizer. Mas que eles terão “justificativas” tão cruéis, isso eles terão. A sorte de todos nos é que o mundo civilizado nos molda para a civilização, não para a barbárie. Tanto o massacre quanto o bullyng não são admissíveis para espécie humana.

A escola é responsável pela evolução do ser humano em seus aspectos cognitivos, sociais e emotivos. Na escola aprendemos a pensar, a conviver com pessoas diferentes e a controlar nossas emoções. Mas a escola não é a única responsável pela formação do ser humano: nisso alguns pais acabam sendo cúmplices do descontrole dos filhos. Abdicam o papel de educadores entregando o filho, de papel passado e firma reconhecida, para as mãos do Estado. A família “controla” e a escola “ensina”. Todavia, ambos são responsáveis pela educação, pelo ensinar; pela elaboração de valores morais. Pedagogo não é mais o escravo que carrega a mochila; nem os professores aquele sujeito que ditava exercício; nem os pais apenas controladores. Todos os adultos devem agir como pedagogos na vida das crianças, controlando e participando da vida da criança.

Não controlamos mais nossos filhos. Eles sabem de coisas que nós não sabemos. São mais espertos, mais inteligentes; como dizem por ai: “mais vivos”. Mas também nessa condição de superioridade, eles precisam mais de nós do que podemos imaginar. Eles precisam saber lidar com a perda. Nós sabemos o que é perda. Celular e computador eram coisas inimagináveis na minha infância. O chocolate que essas crianças podem ter todos os dias, na minha época era nos finais de semana: o tempo corria infinitamente, para eles momentâneo.

Não dá para comparar gerações sem cair num erro brutal da referência. O tempo dos nossos filhos é tão cruel quanto era dos nossos pais. Talvez eles possam estar sofrendo de certas coisas que não sofríamos. Esse assédio escolar, por exemplo, é coisa antiga. Mas, por algum motivo, pela cobrança que fazemos aos nossos filhos, com agenda de inglês, natação; escola; curso e tantas coisas; a questão da derrota hoje é muito mais humilhante do que antes.

O mundo hoje não quer os perdedores.

A verdade é que, se continuarmos com essa mentalidade cruel, não apenas teremos perdedores frustrados por ai, mas perdedores vingativos. Se não mudarmos a idéia da felicidade, da derrota, da perda; nossos filhos cresceram com essa idéia de que vencer sempre é a única maneira de conseguir muito mais do que se espera deles.

E por instantes, desejaria apenas que nossas crianças tivessem sonhos de crianças.